sábado, 18 de dezembro de 2010

Uma árvore

Foi ainda ontem,
ao passar
pela praça,
assisti,
entristecida,
o último ato
de uma vida...
Na esquina,
nascera,
há muito tempo,
quase eternidade,
uma seringueira...
Quando a conheci
já era enorme,
raízes imensas
pendendo
pelo seu caule
gigantesco,
escurecido...
Era delicioso
ficar à sua sombra,
ouvir o canto
dos pássaros,
que ali,
encontravam,
ameno descanso,
das suas jornadas,
encantadas...
O verde escuro,
da velhas folhas,
contrastando
com o verde claro
das mais novas...
Galhos tão belos,
o velho tronco
retorcido,
contavam
apaixonantes
histórias
gravadas,
nas memórias...
Por que
foi arrancada,
tão de repente,
se ainda existia,
que ironia,
tanta força,
o respirar?
Quanto tempo,
lhe restaria,
pra o transeunte
encantar?
Velha amiga,
companheira
de longas horas
de reflexão
e solidão,
dividimos
devaneios
de uma paixão,
por vários dias
acompanhei
o teu despedir
da vida...
Uma angústia
saudosa,
me tomou
profundamente!
Ao me despedir
de ti,
veio a certeza,
de ter perdido,
(muito sofrido!)
um pedaço de mim,
muito querido,
para sempre,
irremediavelmente...

Conservatório Santa Cecília

Lá está,
afixada no muro,
uma velha placa,
estragada,
meio encoberta
pela vegetação,
com esse nome,
e a explicação
do que ali se fazia...
Um velho portão,
e após ele,
enormes árvores
se espremiam,
se encolhiam,
num quintal
pequeno,
mas ameno...
Uma mangueira
carregada,
o abacateiro,
dois jovens pinheiros,
e outras mais...
Atrás da vegetação,
uma casa antiga,
de tijolos,
escura,
fechada,
abandonada,
muito estragada...
Um professor
de música,
um maestro,
morara ali...
Nela sonhara,
amara,
odiara,
impregnara,
todas as paredes,
de sentimentos maus
e bons...
Naquele cenário
escrevera
a sua história...
Apreciara,
embevecido,
as crianças,
os jovens,
e até velhos,
entrando,
alegres,
gargalhando,
tagarelando,
pelo caminho
que os levava a si...
Quanta vida!
Se as lembranças
são virtuais,
e nelas colocamos
nossa impressão,
para ele,
sublimes
seriam elas,
como recordação!
Corpinhos
pequeninos,
mãozinhas
diminutas,
diante
do imenso piano,
dele tirando som...
Como era bom!
Nesse misturar
realidade
e fantasia,
era onde
ele gastava
seu dia a dia...
E, agora,
o que resta
do pequeno
paraiso,
onde viveu
outrora?
A velha casa,
a natureza
luxuriante,
a placa
enferrujada
contam o enredo,
desse personagem,
que se perdeu
no tempo,
que foi embora...

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Casinha branca,
numa ruazinha
tão bela,
da grande cidade!
No peito arde
uma saudade!
Foste cenário
de muitas vidas
desabrochando,
seres jovens,
se preparando,
indo em busca
de seu lugar
no mundo,
seu sonho
profundo!
Palco iluminado
de tantas
fantasias!
Traz nostalgia!
Aspirações
sublimes,
programadas,
muitas não foram
realizadas...
Estás tão longe,
perdida,
numa janela qualquer
da minha mente
enternecida...
Recorro a ti
quando a dor
instigante
bate,
e meu ser,
quase a sucumbir,
se abate...

Saudade

É quase noite,
à tarde,
a hora
do lusco-fusco,
uma saudade,
infinita,
me invade...
Não do que fui,
do que vivi,
ou de quem amei,
mas, do que
me espera,
daquele ser
realizado,
que ainda serei...

Madrugada

Todo dia,
na madrugada fria,
exploro,
calmamente,
reverente,
o veio,
inesgotável,
da poesia...

Findar

Não mais é,
não mais existe,
se foi alegre
ou triste,
não importa,
já foi embora...
Fica registrada
a sua existência,
suas vivências?
Onde?
Em algum lugar,
nesse universo
imenso,
estão guardadas
as memórias
de vidas incríveis
ou horrendas
trajetórias
compondo,
como uma colcha
de retalhos,
uma trama
monumental?
Cada ser
um ator consumado,
será um dia
recordado,
por seu lado bom,
ou infernal?

Viver

De repente,
o palco se ilumina,
alguém
que se aproxima,
para mais
um "show"
particular...
O ator surge,
inconsciente
de que o é,
pra contracenar...
É um recinto
onde se sua,
se verte sangue,
se vive
a dor
que dilacera...
No viver,
nada se espera...
Quando
as falas
terminam,
ele se despede,
feliz
ou magoado,
muita vez
mutilado,
irado
ou tristonho,
p"ra se encontrar,
num tempo qualquer,
em outro lugar...

Passos

Por quais
paragens
andei?
Em que becos,
vielas
ou vias
me perdi,
ou me encontrei?
Não sei!
Só dei conta
que perdi
o rumo,
o compasso,
(nenhum espaço!)
Só vislumbro,
neste momento,
na areia branca
da minh'alma,
a impressão,
vacilante,
dos meus passos...

Busca

Hoje,
sai
por aí,
procurando você,
em cada rua,
em cada esquina...
Insane,
essa busca,
bem sei,
pois procurar-te
loucamente,
será o meu destino,
a minha sina...

Paixão

Amava
me espelhar
no teu olhar...
Não existem
lembranças puras,
as transformei
em delirantes cenas
de deslumbramento,
puro encantamento!
Palavras
são vazias,
pálidas
manifestações
de emoções
intensas...
Intraduzível
nosso encontrar...
Ao recordar,
dou cor,
cheiro,
textura
e aroma
ao sentimento...
Um desvario,
que agora,
pobremente,
traduzo
em verso...
Impossível
demonstrar
o que é
mergulhar
e se perder
numa paixão
devoradora
e seu universo...
Pedemar Maraguara Porã


Menino-homem
diante da lei,
em busca
de identidade...
Ficaste
em mim
para sempre,
uma saudade...
Guardo
a tua imagem
de índio,
perambulando,
tropeçando,
entre duas
culturas!
Questionando
a Tupã,
teu criador,
o porquê
da tua sina,
tão peregrina...
Por fim
te quedaste,
silenciosamente,
conformando-se,
ao revés da lida...
Pedemar,
curumim adulto,
infeliz
com sua sorte,
com sua vida...

sábado, 11 de dezembro de 2010

Obra prima

Rio
de mim,
dos meus micos,
das trapalhadas...
Tão engraçadas!
Delicioso é,
o se sentir um nada!
Ao mesmo tempo,
sei,
que para um Ser
sublime,
significo tanto,
tanto,
tanto!
Ele me considera
Sua obra prima,
o seu maior encanto!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

À Alzira

À Alzira,

Uma vez mais,
um ser querido
se prepara
para deixar
o palco iluminado
do nosso morar
tranquilo...
Foram tanto anos
dividindo
imensas dores,
grandes alegrias,
esperanças sublimes,
perdas irreparáveis,
confidência tantas...
Muitas lembranças!
Viver o cotidiano,
com amor,
foi a tua luta!
Cada conquista
valorizada,
nessa guerra
ininterrupta,
que é a nossa vida...
Tanta delicadeza,
tanto cuidado
no teu atender,
e em satisfazer
cada necessidade,
vai deixar saudade!
Muito amor,
muita ternura
no teu olhar!
Inesquecível,
por certo,
como lembrança boa,
conosco ficarás...
Serás alguém,
de quem
gostaremos
de nos lembrar!
Exalas,
na tua passagem,
o suave aroma
de sentimentos bons...
Querida amiga,
Sê feliz,
são os nossos votos
para o resto
dos teus dias!
Que te aguardem
profundas alegrias!
Descansa,
tranquilamente,
do trabalhar
sem fim...
E, por favor,
não esqueças
de nós
que aqui ficamos,
especialmente
de mim...

O lobo e o cordeiro

Perdoar!
Quão divino é...
Ao te dar perdão,
eu mesma
me perdôo...
Magnífico será,
quando puder
te abraçar
e sentir
uma emoção
acalentadora,
confortadora...
Esquecer
que houve
um passado,
muito triste
a ser lembrado...
Você e eu,
de mãos dadas,
corações irmanados,
caminhando
em busca
de um futuro,
mui almejado...
Melhor, ainda,
é ser perdoada,
poder seguir,
com o inimigo,
a mesma estrada!
O lobo
e o cordeiro,
vivendo juntos,
tranquilamente,
como se fossem,
desde sua origem,
eternos companheiros,
pertencentes
a mesma manada...

Deslumbramento

Ainda
me lembro...
Era um palco
encantado,
nele encenávamos
uma bela história
de amor!
Lá estava eu,
à espera
de me espelhar
na luz
do teu olhar!
Então,
de repente,
frente à frente,
se mergulhava
num profundo
encantamento...
Havia magia no ar,
um deslumbramento!
Miríades
de borboletas
azuis,
amarelas,
mil cores,
flutuavam
na atmosfera...
Como era bela!
Como esquecer,
se só envolvimento
havia!
Me acarinhavas,
me acariciavas
sem me tocar...
Não confessar,
estranha covardia!
A emoção,
libertada,
rodopiava
no ar!
Eram pássaros
e pássaros
a cantar
a mais bela
a mais suave
melodia...
Será
que ficou
gravada
a cena,
em algum
lugar?